Nos guias turísticos que sempre consultei para organizar nossas viagens através da China, durante os quase oito meses em que o Paulo Roberto e eu moramos naquele país, além dos livros descritivos das cidades chinesas e páginas da internet, sempre achei poucas referências a Wuxi, a ponto de ter pensado bastante antes de incluir a cidade em nossa programação. No entanto, ela me interessava tanto por sua história quanto por sua proximidade a Yixing, local onde há séculos eram produzidas peças renomadas de cerâmica e assim achei que deveria arriscar incluí-la nos roteiros que eu preparava para nossas saídas de feriados e finais de semana. Não me arrependi.
Próxima a Xangai, fizemos o percurso rapidamente em um trem muito moderno e confortável. Suas raízes são muito antigas e encontram-se bem documentadas em um esplêndido museu cujo belo prédio de moderna arquitetura abriga seis mil anos de civilização, com objetos e descrições remontando até os períodos paleo e neolítico da região. Iniciar, portanto, nossa programação com uma visita ao museu foi uma boa ideia pois a partir dele ficamos mais conscientes de uma história milenar que os chineses sabem estar impregnada naquela região, que é também a do lago Tai e do rio Yangze.
Na imagem abaixo, uma das galerias do museu reproduzindo as atividades comerciais nas margens do Grande Canal (foto minha).

As diversas galerias do Museu de Wuxi possuem painéis explicativos bilíngues, em inglês e em mandarim, ainda que o Paulo e eu fossemos visivelmente os únicos visitantes ocidentais. Motivamos, como sempre acontecia no interior da China, a admiração de muitas pessoas, que nos pediam para tirar fotos ao nosso lado e faziam comentários simpáticos e sempre com enormes sorrisos. Os funcionários do museu foram extremamente solícitos, indicando-nos as salas mais interessantes e fazendo de tudo para que não deixássemos de ver nenhuma vitrine importante.
Acho que, de todos os lugares que visitamos, as pessoas em Wuxi foram as mais alegres e desejosas de interagir conosco, ainda que isto acontecesse em quase toda a China. Guardo, porém, um carinho especial principalmente pelos jovens que cruzaram nossos caminhos por lá e para os quais às vezes pedíamos alguma informação. Lembro de uma garota para a qual agradeci uma referência de rua com o incontornável Xiè xiè e fui retribuída com um gesto das duas mãos dela fazendo um coração e depois um aceno amistoso. São destas coisas que a gente não esquece, ainda mais em viagem e mesmo morando em um país distante do nosso.
A exposição permanente do museu se inicia com as culturas pré-históricas e mostra a importância do lago Tai e do rio, com a abundância de água favorecendo a pesca, que sempre foi uma atividade milenar e muito importante na região. O desenvolvimento da economia em toda a área foi também significativo no período imperial e a construção do Grande Canal permitiu o escoamento de uma farta produção de grãos que já era significativa nos tempos da dinastia Yuan (1271-1368) e com grande destaque para o arroz durante todo o período Ming (1368-1644).
O Grande Canal foi uma obra essencial para e economia da China imperial e sua construção teve início na dinastia Sui (581-618), mas foi depois ampliado em diversas etapas. Em toda a sua extensão liga um grande número de rios, de outros canais e lagos visando facilitar a circulação fluvial de mercadorias. Toda esta história está muito bem contada em diversas salas com objetos, imagens e grandes painéis explicativos que mostram as diversas etapas do desenvolvimento de Wuxi e do seu entorno.
Passear à pé pelo centro de Wuxi é também um ótimo programa e as ramificações do Grande Canal que cortam a cidade proporcionam belos reflexos nas águas, com pontes e diversas embarcações que circulam por ali com frequência. Há também muito verde por todos os lados e algumas casas têm lanternas vermelhas nas janelas, que são usadas com frequência em toda a China e não apenas em lugares turísticos. O que muitas vezes achamos que se trata de decoração apenas para atrair os visitantes é realmente parte do dia-a-dia chinês.